01 dezembro 2005

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Jones permaneceu em silêncio, assim como seu interlocutor. Não há nada mais constrangedor do que ficar mudo ao telefone, sabia, mas era a melhor coisa possível naquele momento. O mínimo que esperava era uma explosão de fúria no outro lado da linha, cobrando a porra do deadline e o trabalho que estava por ser terminado – e bem longe do fim, diga-se de passagem.

Passaram-se 10, 20, 30 segundos naquele silêncio que parecia eterno. Tão longos segundos que fizeram Jones acostumar-se à situação. E tomar coragem. Uma última injeção de coragem correu por aquelas veias divididas entre o sangue e o álcool. Sou um homem, não um rato, tentou convencer-se. Já triunfante, pronunciou, cheio de segurança:
– Alô.
Não esperava resposta, e de onde não se espera nada é que não sai coisa nenhuma. Só que, desta vez, foi diferente.
– Jones... – sussurou o interlocutor.

Ah, como seria bom se ele tivesse ficado quieto, pensou Jones. Agora, era questão de tempo para entrarem no assunto. O começo do fim, o último telefonema de um homem, o juízo final, qualquer chavão servia para descrever a enrascada em que havia se metido. Ninguém mandou topar o que não se pode fazer. E ninguém mandou colocar a ambição acima da própria capacidade.

Agora, o preço estava sendo cobrado. Desesperado, Jones apelou:
– Não deu tempo. Mas eu posso terminar...
E ouviu justamente o que mais temia:
– Não pode. O tempo acabou.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ah! Sério demais... se fosse a namorada cobrando no telefone seria mais engraçado!
Mas parabéns, teu relato, digo, história está ficando boa...

Anônimo disse...

Muito bom. Este blog tá ficando interessante.