Ótima idéia a do plano B. Muito boa, muito boa mesmo, especialmente para quem não tinha plano A. Se era B ou A, pouco importava. O tempo corria e Jones, sentado, precisava de uma solução. Espremia os miolos, mas nada saía. De volta ao que restou da água, insistia em soluções mirabolantes entre um gole e outro. Olhando para a garrafa, tirou a primeira atitude, a mais primária possível: sair do local.
É, Jones não era homem de grandes sacadas. Aliás, fugir combinava com sua personalidade. Vivia fugindo. Dos compromissos, do horário e, agora, do trabalho. Uma nova fuga, então, pouco acrescentaria – a não ser o fato de que poderia ser a derradeira.
– Pensa, Jones, pensa – sussurava, enquanto colocava uma calça e vestia uma camiseta.
Enquanto calçava os tênis, decidiu para onde iria. Levantou-se, pegou carteira e juntou os cacos do celular. Ainda funcionava? Jones viu o cristal líquido aparentemente intacto, só que era preciso unir o telefone novamente. Dois pedaços não servem para nada. Felizmente, havia um encaixe. Feito isso, era arrumar a bateria e religá-lo. Tudo certo: telefone ok, sinal idem.
Jones colocou-ou no bolso e ouviu um bip. Sacou o celular, abriu o flip e conferiu: era exatamente o que esperava. Chamada na caixa, e da pessoa que o ameaçava.
– Sabia que o George iria tentar de novo – disse Jones, imaginando a raiva do interlocutor.
Dito isso, bateu a porta do apartamento, desceu rapidamente as escadas e chegou à rua. A pressa se justificava pelo nervosismo, e o nervosismo, pela iminência do pior. Ligeiramente bem arrumado, Jones até passaria por um universitário. Principalmente pela barba por fazer e pela cara de quem tomou hectolitros de cerveja na véspera. Tanto que uma senhora passou em frente ao prédio no momento em que Jones saía e, indignada, disparou:
– Devia ter tomado um engov antes e outro depois, rapaz.
Jones não respondeu. Ouviu quieto e engoliu em seco (e como a boca estava seca), envergonhado. Estava mais ligado para tentar antecipar os movimentos de George. Caminhava e pensava, caminhava e pensava. Se havia mandado que ele fosse buscar o trabalho, nada mais correto do que fugir de casa. Ele nunca vai me pegar, deduzia.
Nesse momento, Jones congelou o passo, levou as duas mãos à cabeça e gritou:
– Não!
Claro que faltava alguma coisa. O trabalho! Se iria entregá-lo a George, que fosse pronto! Inacabado, jamais! Isso seria altamente comprometedor. Se ao menos tivesse atirado o computador pela janela, ou feito uma faxina, estaria mais tranqüilo. Mas não: o álcool é inimigo dos neurônios.
Novamente desesperado, Jones girou e tomou o rumo de casa, agora correndo. Encarar George de frente era apenas uma possibilidade, ainda que Jones tivesse certeza de que isso era questão de minutos.
13 dezembro 2005
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