28 março 2007

Futebol?

ATENÇÃO: este post é bem longo e, portanto, está dividido em capítulos para privilegiar uma leitura prazerosa. Comece se quiser, desista se puder.

PRÓLOGO
Tudo começou ontem à noite. Ou hoje, conforme o ponto de vista – pelo meu, o dia só termina quando a gente vai dormir. Nesse caso, ontem acabou às 4h e pouco da manhã, depois de um fechamento tenso no jornal. Não fiquei lá até essa hora: saí à 1h, mas ontem a tensão pegou e e decidi que iria comer alguma coisa antes de dormir. Aliás, cada vez me convenço mais de que os jornalistas realmente são os profissionais que mais morrem do coração, como disse uma pesquisa, anos atrás.
Enfim, continuando. Fui ao Bar do Beto com um colega. Lugar quase vazio, pedimos umas cervejas e um filé à xadrez. Jogamos conversa fora até às 3h, e eu comi mais do que deveria. Beber, foi pouco. Claro que essa combinação significou dificuldades para dormir. Como disse antes, peguei no sono tarde. E acordei cedo para os meus padrões.

CAPÍTULO 1
Telefone tocando por volta das 10h, levantei, atendi, era minha mãe. Acho que ela conversou sozinha, porque eu ainda estava meio zonzo. Só lembro de ter dito que dormi às 3h, não sei se por imprecisão ou vergonha de a hora certa. Enfim.
Fato é que ela prestou um baita favor. Não fosse a ligação, eu não acordaria. E perderia o futebol marcado para as 11h. Logo lembrei do jogo, mudei a roupa, mastiguei umas bolachas para enganar e saí para Puc, onde o pessoal joga. Só jornalistas.

CAPÍTULO 2
Óbvio que a falta de academia e a noite anterior fizeram toda a diferença na partida. Ainda marquei uns golzinhos, apesar do cansaço. Quando acabamos, veio a surpresa. Todo mundo saindo e uns galetinhos que ocupavam a quadra ao lado nos enquadraram no corredor. Foram direto ao ponto:
– Tá faltando gente. Vocês podem jogar de goleiros para a gente???
Espanto geral. Eu, sempre faminto por uma bolinha, topei na hora. Faltava um, que acabou sendo o Fister. Entre risos e incredulidade, cada um assumiu seu gol. Definitivamente não havia nada a perder.

CAPÍTULO 3
Começou a pelada – sentido figurado, que fique bem claro –, e o nível técnico era o pior possível. Nenhuma noção de futebol. Na parte estética, havia algumas craques. Pela primeira vez reparei em colegas de time fora do lance, mas fazer o quê? Ninguém é de ferro. Eram estudantes de Direito da Puc, provavelmente primeiro semestre. Quase daria cadeia, como dizem as piores línguas. E eu e o Fister só rindo, só rindo. Claro que pegamos leve e tomamos uns gols – terminou em empate. Ele resumiu bem:
– A gente não joga nada e fica parecendo que jogamos alguma coisa...

CAPÍTULO 4
Mas tinha de haver um diferencial, algo digno de posteridade. Felizmente, aconteceu. A glória veio na assistência que eu dei pruma menina com camisa do Real Madrid – era muito bonitinha, e notei que no começo eu só passava a bola para ela. Reflexo involuntário, não tive culpa.
Voltando ao lance consagrador. Recuaram a bola no meio da quadra, e todas as colegas – pareço o Sílvio Santos falando do auditório, "Alô caravana do Jardim Letícia, cadê a caravana do Jardim Letícia?"– ocupavam a ofensiva. Um adversário, ops, adversária marcava o meio, impedindo um eventual passe meu.
Com um movimento de pé, fiz menção de acionar a guria pela direita e a marcadora entrou na conversa fiada (credo, como guria é ingênua para futebol) e foi ao encontro da bola que não foi ao encontro dela. Com o meio aberto, lancei rasteiro para a moreninha do Real Madrid. Ela ocupava o lado direito da área, dividida com o Fister. Só eles.
Essa do Real certamente era a pior do time, apesar de bater um bolão (trocadilho infame, perdão). Mas futebol é futebol, e ela esticou todo o corpinho, antecipou ao Fister e marcou de toquinho um golaço que levantou o ginásio e derrubou o goleiro. Ele ergueu-se do chão com o riso no rosto dando a entender que pretendia virar um avestruz naquele instante. As meninas eram só alegria.

CAPÍTULO 5
Nessas horas, a gente tem de ser ponderado. Certo que fora um belo gol, elas experimentavam um êxtase, quase catarse, mas eu tinha de manter a compostura, os mais velhos precisam dar exemplo. Comemorei também, mas só com um tapinha nas mãos da moreninha, sabem como é esse negócio de assédio sexual, estudante de Direito iniciante deve ter todo o gás para meter na Justiça e ter uma história para contar na sala de aula.
O jogo tinha acabado ali, e o que aconteceu depois pouco importa. Por um bom motivo: realmente não aconteceu nada. Eu nem queria mesmo, suadão, tava mais a fim de um bom banho e de uma garrafinha d'água.
Puxamos o carro quando acabou e era isso. Que ficou o folclore, ah, isso ficou. Valeu, mãe!


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Só escrevi esse post agora porque estragou o ar-condicionado do Cinemark. Tinha ido assistir a Scoop – O Grande Furo e nem comprei o ingresso. Fica para a próxima.

Um comentário:

Anônimo disse...

Palha. Tantas linhas pra contar uma história sobre futebol. Muita decepção. Deveria ser uma história sobre mulheres. Tu não serve para David Coimbra.