Na sexta à noite dividi uma mesa com alguns amigos. Tinha também uma amiga da namorada de um dos meus amigos (ufa). Todos eram jornalistas. Para meu espanto, a guria trabalhava na Capricho, em São Paulo. Quando descobrimos isso, todo mundo começou a perguntar como era escrever pro público adolescente e fazer aquelas materinhas de romance pós-puberdade. Para sorte dela (pelo menos foi o que garantiu), escreve sobre cultura (música, literatura etc). Mesmo assim, fiquei imaginando como seria redigir algo do tipo "Ele me ligou: e agora?".
Por tudo isso, resolvi brindar os leitores deste blog com um texto voltado ao público adolescente feminino (vá lá, perto dos 20 também lê que eu sei). Depois vou perguntar para a Louise se ficou bom. Taí:
ROLOS Uma menina beijou ele, e você levou guampa: o que fazer com essa bisca
A difícil hora da VINGANÇA
Você sabe bem como funciona: a festa tá superlegal, música bacana, April Lavigne dominando e aquele gatinho há horas na sua cola. Você faz um cuzinho-doce, afinal, ele está na sua mas você não pode mostrar que está na dele. Horas e hectolitros depois, o Justin toma a iniciativa e dispara sua lábia para lá de original:
- E aí, tudo bom?
Claro, você está caidinha e o papo cola como superbonder. Minutos depois, seus lábios quedam-se grudados e intumescidos aos dele. Minutos parecem eternidade e passa aquele conto de fadas em sua cabeça, à margem da inevitável questão:
- Será que ele é o homem da minha vida?
Óbvio que era muito cedo para você responder. Pois então, para o bem ou mal, agora suas dúvidas já cessaram porque aquela sua amiga que sabe t-u-d-o da vida de t-o-d-o mundo trouxe uma quentinha e bombástica: o gato lascou um selinho na Alicinha, aquela siliconada vulgar do terceiro ano que vive usando bolsinha Louis Vuitton falsificada e leg da Rola Moça. Credo, como ele pôde? E na hora do recreio?
Não importa. Nessas horas o importante é a SUA atitude, amiga. Seja forte. Inflexível. Determinada. Decidida. Intransigente. Aja como se nadica de nada houvesse acontecido. Mantenha-se no trono olímpico da sua superioridade enquanto a plebe roça ao sabor dos seus chifres, ops, ouvidos. Você levou guampa, e daí?
Mas saiba que enquanto se ignora os mais fracos, faz-se prioritário demonstrar sua indiferença de forma enérgica. Guarde os lenços de papel, minha cara. Confúcio ensina que às vezes vale a pena reconquistar o gatinho e transformar seu maior objeto de orgulho em algo que o destrua e jogue sua reputação na lata de lixo. Você, amiga sábia, claro que sabe do que estamos falando, mas é capaz de sua mãe ler este trecho e de pegar no seu pé, então vamos manter nossa conversa no campo das meias-palavras.
Voltando ao nosso papo, essa opção pode se tornar operacional graças à sua bela boquinha e à sua língua afiadíssima. Resolve bem a parte do ex-pretê, ele já era. Falta ainda a bisca. E ela é quem merece a mãe de todas as vinganças.
Comece com uma simpatia daquelas. Pegue um pote de creme, uma tangerina, dois cubos de gelo (o plástico, não o gelo), sal grosso, pétalas de cravos de defunto, uma câmara de pneu de bicicleta, chifres de bode e cozinhe por 40 minutos. Depois de 30, prove e veja se falta sal. Manjericão cai bem e dá um toque personalizado ao tempero. Soa floral.
Quando estiver ao seu gosto, sirva em uma tigela refratária e decore com aquela foto que a mocréia mais gosta no Orkut. Coloque no forno, escolha potência máxima e espere incendiar. Lembre sua mãe de que está na hora da Márcia na Bandeirantes e não esqueça do extintor à mão. Na terceira labareda, apague tudo.
Em três dias, a bisca vai definhar. Vai ganhar um bafão daqueles e, se voltar a beijar um dia, será um sapo. E a amiga aqui terá uma história m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a para contar às maiores confidentes (e às fofoqueiras, ninguém é de ferro, né?).
Agora é hora de varrer tudo para debaixo do tapete e já pensar no vestido novo da festinha de sábado, quando o Kaiky (seu novo pretê) vai querer ficar com você. As mensagens trocadas a semana inteira no celular e os scraps de boa-noite no Orkut mostram que você é poderosa. Brilhe!
31 dezembro 2007
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