Gott rezava em contrição. Católico fervoroso que era, admirava Cristo acima de tudo, apesar dos 83 assassinatos às costas – o Reino dos Céus também pertence aos pecadores, algum bem-aventurado filho da puta haverá de lembrar. Pois Gott rezava pecado sobre pecado quando recebeu um cutucão na omoplata esquerda. Surpreso, virou-se e viu a figura grave do monsenhor.
Desnecessário dizer, até por uma questão de reconhecimento da perspicácia do leitor, todos os fatos contados e recontados pelo famigerado monsenhor. Desde a visita de Rivald, o gato falante, até as suspeitas, tudo chegou aos ouvidos de Gott.
Como bom serial killer, pensou só haver uma solução disponível. Ciente da força da mãe natureza e de seus filhos animais, pensou tratar-se de boa idéia tomar uma atitude preventiva antes de partir para um desfecho mais grave. Olhou para os lados e viu apenas paredes de pedra. Por questões pessoais, Gott tinha o hábito de insistir nas orações até restar sozinho no recinto. Era o que acontecia agora. O monsenhor, perturbado, apenas repetia:
– Temos de tomar uma atitude, temos de tomar uma atitude.
Gott concordou como um verbo no singular e um sujeito na primeira pessoa deste tempo. Sim, seria preciso tomar uma atitude. De posse de uma pistola escondida na batina, mirou o rosto do monsenhor e disparou sem dó nem piedade. Em uma hora complicada desta, vacilões deveriam descansar debaixo da terra.
E Rivald que se virasse em desvendar quem seria o 85.
21 março 2008
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