05 abril 2008

"Roubei" o texto...

Puxei este texto da Zero Hora de sábado. Sei lá, gostei. Ah, não vou dizer quem fez!

13 quilômetros por um sonho

Gérson Batista esteve entre os cerca de 400 meninos que o Cruzeiro atraiu para peneirão

Ele tem nome de craque, veste camiseta de craque e sonha em ser craque. Muita ambição? Gérson Batista, 14 anos e número 11, inscrição Romário às costas, sabe que sonhar não custa nada.

E foi em busca da carreira como jogador de futebol que o menino humilde do bairro Rubem Berta percorreu ontem cerca de 13 quilômetros a pé, entre ida e volta, para tentar a sorte no peneirão do juvenil do Cruzeiro, da Segundona gaúcha.

Gérson foi só mais um entre os quase 400 garotos, segundo os organizadores, que se dirigiram ontem à tarde ao modesto Estádio Estrelão, na zona leste da Capital. Apesar da já gasta camiseta da Seleção - original da Copa de 1994, foi presente do pai, João - , o adolescente não se deixou levar pelo nome de centroavante e disputou vaga na lateral-esquerda.

Em 15 minutos (duração do jogo), deixou como impressões bom domínio de bola e velocidade. Prova disso, recebeu convite para voltar segunda-feira, quando haverá nova seleção, já sem os eliminados de ontem.

Sem dúvida, trata-se de motivo de orgulho para Gérson. De origem humilde, teve de abandonar os treinos nas categorias de base do São José, onde fora aprovado em teste, porque a distância do Passo DAreia até sua casa era longa demais para ser percorrida a pé. E passagem de ônibus, mesmo que apenas três vezes por semana, não cabia no orçamento familiar. Lembra a história de Ronaldo, que treinava no São Cristóvão por falta de dinheiro para ir ao Flamengo.

Se tiver sucesso segunda-feira e passar a integrar o juvenil do Cruzeiro, Gérson terá oportunidade de seguir uma tradição do Rubem Berta: a de revelar jogadores, como o meia Anderson, hoje no poderoso Manchester United, da Inglaterra.

Bem-articulado com as palavras, Gérson diz lembrar de Anderson: conta que o craque freqüentava a Escola Municipal de Ensino Fundamental Grande Oriente, a mesma onde o candidato a jogador agora cursa a sexta série. Pena que só possa estudar quando é possível.

- A gente fica alguns dias sem aula por causa dos tiroteios - conta.

Ontem, pelo menos, o garoto pôde esquecer da violência por algumas horas. Verdade que as primeiras transcorreram com ele sentado na laje da arquibancada do Estrelão; no estádio desde as 13h30min, Gérson só foi chamado depois das 16h. Venceu a disputa ferrenha pela atenção do coordenador José Manieto, 74 anos, encarregado de chamar os meninos aleatoriamente. Entre gritos de "eu, eu, eu!" vindos da gurizada, o funcionário ganhou até apelido: Zagallo, em função dos cabelos brancos.

Pois Gérson abandonou a companhia de cinco amigos, todos concorrentes, e do irmão, Jefferson, que só não participou porque nasceu em 1990 - estavam na disputa nascidos em 1991, 92 e 93. Então, desceu da arquibancada, passou por Manieto no portão, cruzou a linha de fundo e a lateral do campo, disse a um funcionário seu nome e posição e esperou na casamata por cerca de meia hora até receber colete, entrar em campo e desempenhar a lateral-esquerda, sua função preferida.

Quinze minutos depois, saiu de campo pelos fundos do pavilhão, calado. Mas com a sensação de dever cumprido.

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