02 janeiro 2009

Ginsu - cap. 1

Pitar depois do sexo virou moda talvez pela consagração nas telas do cinema ou porque assim era há mais tempo, um tempo do qual não lembro pela simples explicação de ainda não ter nascido àquela altura. Fato é que o fumo barato e o isqueiro vagabundo combinavam, e como, com a espelunca na qual meu corpo jazia. Aliás, contam-se nos dedos as vezes em que jazer serviu tão bem como sinônimo para deitar, porque a cama de tão dura lembrava um caixão, e a mulher de tão feia remetia a um corpo, cadáver ou presunto. Não cabe aqui descrevê-la pela simples referência ao respeito que devemos aos menos favorecidos pela mãe natureza. Parece compaixão, e de fato a coisa anda mesmo por este caminho.
Bom, por alguns momentos acabei desviando do meu foco, que não é fumo, isqueiro, cinema, presunto, caixão ou sexo. Logo mais revelarei do que estou falando, talvez com linguagem acurada ou quem sabe pobre e recheada de chavões da linha de "estas maltrapilhas linhas". Não é meu objetivo, juro, muito menos enrolá-los, obtusos leitores.
Enfim, ia dizendo que jazia e pitava. Mas não contei que já havia colocado o terno, ajeitado a gravata, calçado os sapatos, afivelado o cinto da calça, conferido o troco antes de colocá-lo na carteira e, por fim, limpado a faca. Era hora de ir embora.
A passos nem tão rápidos que remetessem nervosismo, nem tão lerdos a ponto de sugerir deboche, como bem observou certa vez uma rainha cuja alcunha era louca, porém de louca não havia nada fora a nora e o filho babão, deixei a espelunca. Aqui vale sublinhar, espelunca é elogio quando poderia classificar o lugar como necrotério, pois estava deitado em um caixão e ao lado de um cadáver. E olha que nem sou de exageros: destas ilações todas, pelo menos uma parte é verdade. A do corpo.
Para ser bem sincero, um sentimento de culpa surgiu na minha cabeça uns cinquenta metros adiante do prostíbulo do qual recém havia saído. O conformismo, porém, veio a galope e varreu o remorso pelo simples argumento de que todo mundo transa com mulher feia. Os que as matam, estes sim, é que são poucos. Sorrindo, coloquei a mão no bolso do casaco e retirei a faca, que reluzia o reflexo das lâmpadas da iluminação da rua. Sei lá, parecia pedir bis.

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