30 novembro 2009

Reflitam, ora, pois!

A gente, às vezes, tem mania de se queixar da vida. Hora de um choque de realidade, portanto. De aprender com quem tem a ensinar. Esse texto saiu no Diário de Santa Maria, em dezembro de 2007. É da Tatiana Py Dutra (a Tati Py, nos links ao lado).

O frentista que virou juiz

A lista de vitórias na vida
do juiz Sidinei Brzuska,
39 anos, é longa. A mais
recente e notória foi a construção
do novo Presídio Regional
de Santa Maria – obra encampada
pelo magistrado, há anos
ciente que o nível de lotação
da penitenciária ultrapassava o
aceitável. Mas, na avaliação do
próprio, que hoje é titular da 3ª
Vara Cível, esse sucesso nem é
tão grande assim:
– Era uma coisa que a cidade
precisava e alguém tinha de
fazer. Não acho nada demais.
Não é falsa modéstia. Para
ele, sua grande vitória foi conseguir,
apesar da extrema
pobreza de sua família, ter se
tornado juiz. Nascido em Três
de Maio, no noroeste do Estado,
filho de uma dona-de-casa
e de um lavador de carros, Sidinei
Brzuska parecia que seguiria
o destino da maioria das
crianças pobres de sua região:
largar os estudos para arrumar
um emprego. O trabalho veio
mesmo. Aos 12 anos, começou
como lavador de carros. Mas
ele não largou a escola. Com o
dinheiro, passou a pagar o próprio
material escolar e, aos 16
anos, fez a escolha de sua vida.
– Botei na cabeça que seria
juiz aos 30 anos. Tomei posse
no cargo aos 29 – conta.
Foi preciso muita fé – ou
perseverança, palavra que o
magistrado prefere – para superar
todos os obstáculos que
surgiriam no caminho. Aos 18
anos, deixou Santo Ângelo,
onde morava com a família, e
partiu para a Capital.
– Fiquei matando cachorro
a grito por dois anos até conseguir
dinheiro para o cursinho.
Trabalhei de frentista, officeboy
e também fiz um trabalho
bem difícil, que era alugar mesas
de sinuca para botecos. Ia
em bares nas piores bocas de
Porto Alegre, como o Morro
da Cruz, oferecendo mesas –
lembra Brzuska, que certa vez
teve de fugir de um bar onde
homens ameaçavam assaltá-lo.
Nesse período, vivia na casa
dos tios, que moravam na Vila
Cefer, na periferia da cidade.
Muitas vezes, teve de dormir
no chão, porque não havia acomodações
suficientes na casa:
– Dividia o quarto com meus
primos. Como só havia duas
camas a gente revezava. A cada
semana, um dormia no chão.
Banana, mortadela
e muitos churros
Depois de juntar dinheiro
para fazer o cursinho, Brzuska
conseguiu entrar no curso de
Direito da Pontifícia Universidade
Católica (PUC). Como
o salário que recebia não era
suficiente para pagar o curso,
teve de pedir financiamento estudantil
para pagar parte dele.
Foram tempos duríssimos.
– Passei boa parte da faculdade
comendo banana com
mortadela. É verdade. Com R$
1, dá para comprar duas bananas
e uma fatia de mortadela,
o que é barato e mata a fome.
Um churro bem engraxado
também sustenta – conta.
Em 1993, o menino de Três
de Maio conquistou o diploma
tão sonhado e partiu para
a fase 2 de seu plano: estudar
para ser juiz. A falta de dinheiro
dificultou a realização rápida
de seus sonhos, mas não
foi obstáculo à tenacidade de
Brzuska. Sem condições de pagar
cursos preparatórios, estudou
sozinho. Prestou concurso
sete vezes. Na última, foi aprovado.
Há dez anos, ele assumia
a Vara de Execuções Criminais
do Fórum de Santa Maria. O
sonho havia sido realizado.
Nos 11 anos em que batalhou
por seu sonho, o dinheiro não
foi o único problema. A torcida
do “contra”, por vezes, atrapalhou.
Segundo ele, a descrença
alheia é sinal de fraqueza:
– As pessoas torcem contra
porque não têm perseverança,
garra para trabalhar e seguir
em frente. Aí, dizem para os
outros que seus planos são impossíveis.
Não me acho melhor
que ninguém, mas acredito
que, se a pessoa tem um sonho
e está com dificuldades, tem de
buscar forças para superá-la.

3 comentários:

Fernanda disse...

Comparando este com o post abaixo e a sua frase para o alemão...
Imagino diferentes oportunidades devem gerar diferentes sabores de vitória...

mim disse...

Oh, yeah!

Anônimo disse...

Às vezes, a gente também tem mania de valorizar esforços distantes. Há, muito próximo do atento blogueiro, um exemplo. Não parecido com a história de vida, mas muito semelhante no conteúdo, e, principalmente, com o final.