25 dezembro 2007

Cartinha de Natal

Querido Papai Noel

Minha mãe disse para eu não escrever para o senhor porque o Natal já passou. Eu não concordei, porque hoje é dia 25 e eu aprendi no colégio que Jesus nasceu no dia 25, então Natal é no dia 25. Ninguém me explicou por que a gente ganha os presentes no dia 24, mas eu acredito que isso deve ser alguma ordem dos mais velhos que mandam na gente.
Bom, eu queria dizer para o senhor que eu fui um bom menino neste ano que está terminando agora no dia 31. Não matei aula, não desviei dinheiro da merenda, nunca maltratei os gatos e nem soneguei os impostos. Também evitei espiar debaixo da saia das gurias. Papai Noel, se o senhor soubesse, a gente coloca um espelhinho na ponta do tênis e aí é só se posicionar no ângulo certo e ir para a galera. Eu nunca fiz isso, meus amigos é que me contaram. Garantiram que é bem legal e que aprenderam a calcular o ângulo na aula de geometria. Imagina o senhor, um dos meus amigos usava até fórmula de Báskara! Pelo menos serviu para ele passar com nota boa...
Papai Noel, eu queria aproveitar a cartinha para contar algumas coisas, mas não sei se devo. Inventaram esses dias uma palavra nova, indiscrição. Pelo que eu entendi, é a mesma coisa que fofoca. De qualquer forma, o senhor me desculpa se eu vou ser indiscreto.
É o seguinte: o meu professor de redação, eu ando preocupado com ele. Me contaram que, de uns tempos para cá, ele sai toda a noite e vai para algum lugar que eu não sei qual é. Mas parece que ele sempre chega em casa rindo, cheirando mal (o cheiro dele é ruim, o nariz acho que funciona) e com umas marcas avermelhadas na gola da camisa. Aí a mulher dele fica fula e bate com o cabo da vassoura no chão. Contaram que uma vez ela fez isso e ele respondeu:
- Vai varrer ou vai voar?
Eu devia ter dito para ele que a gente precisa ter cuidado com as mulheres. Outro dia aquele meu amigo do espelhinho no tênis não cuidou quando foi olhar debaixo da saia e acabou levando um chute nos ovinhos, coitado. Fizeram omelete nele.
Mas voltando ao que interessa: outra coisa que eu também queria dizer, Papai Noel, é sobre como as pessoas têm o costume de falar nome feio. Tem uma menina, que eu não vou dizer o nome para não ser indiscreto, que sempre responde para a gente com umas palavras horríveis. Ela manda a gente "ir ao banheiro" (não vou escrever nome feio na carta para o senhor, pode ficar tranqüilo) quando a gente fala alguma coisa que ela não gosta. Eu vou pedir para a minha mãe conversar com ela e dar uns toques.
Papai Noel, o senhor me desculpa, mas eu tenho que parar de escrever. A cartinha ficou grande, a folha do meu caderno é pequena e minha mãe está me chamando para jantar. Se eu não for logo, ela vai ficar gritando por muito tempo, e eu aprendi na escola que os gritos estridentes podem trincar os vidros. Aí meu pai ia ter que comprar um vidro novo, e como ele não gosta de gastar, ia brigar com a minha mãe. E também é capaz de ele não me dar dinheiro para o envelope e para o selo para o Pólo Norte. Eu até queria dizer para o senhor ficar tranqüilo que a minha carta vai chegar, porque os Correios já terminaram a greve.

Agora o espaço acabou mesmo e a minha mãe continua gritando. Vou lá jantar, hoje ela fez uma sopa verde que eu não gosto muito, mas se eu não comê-la fico sem tomar refri. Ah, e o senhor não estranhe que eu não pedi presente. Sabe o que é? No fim, eu acho que não preciso de nada. Mas vou ficar muito feliz se o senhor der um presente para os outros que precisam.

Um abraço, e até o ano que vem (2008)

Juquinha

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