12 fevereiro 2008

CAPÍTULO 2

Em se tratando de vontade de dormir, cama era supérfluo para Gott. Dotado de muita energia, por vezes passava noites em claro e emendava até o fim do dia sem pegar no sono. Talvez fosse por influência dos costumes do sacerdócio.
Tal com fizera tantas vezes, Gott não dormiu. Mal chegou ao internato, tratou de cuidar do próprio desjejum. Como bom parisiense – ainda que por adoção –, dispensou o banho e imediatamente colocou a roupa de trabalho. Neste caso, uma espécie de túnica marrom combinada com sandálias de tiras manufaturadas. Tão oculta quanto seu segredo, jazia a vaidade. Verdade era que Gott tinha preocupação com aparência e jactava-se de seus 68kg distribuídos em algo em torno de 1m75cm. Cabelos loiros, crespos, na altura do ombro e um bigodão compunham o visual.
O segredo do segredo, com o perdão da redundância, consistia em manter bico calado. Por levar a sério a estratégia, Gott gozava de pouca simpatia com os colegas. Não raro, ouvia comentários maldosos pelas costas, sempre relacionados à alcunha de "Alemão". Gott viera de Bremen ainda criança, ninguém sabe como. Já que ele sequer preferiu dar uma versão para a história, aí fica o mistério.
Já trajado com o uniforme de trabalho, Gott dirigiu-se ao templo. No caminho, cruzou jardins, passou por estábulos e enojou-se com o odor dos porcos (a despeito do próprio cheiro, fruto dos três dias sem chuveiro, ops, banho, porque o chuveiro ainda não havia sido inventado). Também parou para alisar um gato nunca visto por ali, preto e pachorrento, a quem decidiu batizar como Rivald. Gastou um minuto e meio com o bichano antes de colocar o pé dentro do templo e iniciar suas orações, como praxe.
Naquela segunda-feira, porém, ninguém imaginava o que aconteceria. O lado profano de Gott viria à tona ladeado por, como convém, conseqüências catastróficas para seu universo. E tudo graças a um maldito gato chamado Rivald.

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