21 março 2008

CAPÍTULO 7

Petit acariciava os cachos em frente à penteadeira. Vaidosa como si só, jamais admitia sair à rua sem apresentar-se impecável. Sem dúvida, pormenores surpreendentes para uma gata cuja única vestimenta era a própria pelagem.
Pois Petit gastava o tempo em auto-bajulação quando deu por conta da presença de Rivald. Surpresa, emitiu um miado de advertência, afinal, trata-se de deselegância invadir o recinto de uma dama sem ao menos bater. Rivald, indiferente à etiqueta, entrou esbaforido, anunciando:
– Petit, vão matar alguém hoje!
– É gato? – devolveu a gata, ar blasè.
– Vou lá eu saber – retrucou Rivald, indignado com a aparente indiferença da amiga.
Petit continuava afixada à penteadeira. Entre uma e outra lambida nas próprias patas, olhou disfarçadamente para Rivald e notou o aspecto perturbado do gato. Como animal dotado de bom senso comum, imaginou ser melhor colocar os ouvidos à disposição e escutar a cantilena de Rivald.
Nem foi preciso pedir para ele começar:
– Petit, hoje é o número 84!
– Como assim?
– Gottfried e o monsenhor são serial killers. Mataram 83 pessoas e a próxima será hoje.
Petit, então, demonstrou preocupação. Como boa espécime feminina que era, primeiro analisou a própria situação. Definitivamente, não havia motivo para ser ela a vítima. Então, voltou-se a Rivald:
– E quem será a vítima?
– Se soubesse, já teria alertado.
– E onde eu entro nessa, então?
– Você vai me ajudar a desvendar o próximo assassinato. Aliás, tudo indica que serei eu a vítima.
Rivald adorava colocar-se no papel de vítima. Dengoso, vivia à procura de colo, miando como um faminto. Por incrível que pareça, desta vez Petit embarcou na história. E bradou, em voz alta:
– Vou te ajudar.

Nenhum comentário: