02 maio 2008

Capítulo 9

Antes de tudo: o capítulo 8, 7 e anteriores estão nos arquivos (é só clicar nas postagens mais antigas, pé da página). Se houver algum interesse, feche os olhos para as próximas linhas.

Gott estourou os miolos do monsenhor. Sem dúvida, situações de perigo exigem precauções, escrúpulos à parte. Pistola à mão, Gott pouco deu bola ao corpo ensangüentado que jazia no piso frio, rosto desfigurado. Mais importante era salvar a própria pele e esfolar a do gato intrometido.
Pois o religioso decidiu pôr fim à história com precisão suíça. Sem dúvida, a esta altura o capítulo ganha expressão de desfecho do conto, e admito que a coisa realmente pode tornar por aí – confirmar agora seria um misto de deselegância e estupidez, ou qual noção de interesse restaria em uma história com final decretado?
Pois Gott, que nada tem a ver com as elucubrações do autor, guardou a pistola e fez pouco caso à pólvora espalhada. Achar Rivald era a pauta, sem exceções. Girando os tornozelos, pôs-se em direção a local onde julgaria encontrar o gato falante. Caminhou com a tranqüilidade dos justos, cumprimentou a todos pelo caminho e logo chegou ao aposento onde restava a escrivaninha de Petit. Sim, Gott deduzira o envolvimento entre os dois gatos, sabe-se lá o porquê. Parece impossível alguém descobrir um gato dotado de expressão oral, quanto mais dois, mas aí vai o crédito ao assassino, ou será estúpido alguém responsável por 84 mortes e que segue impune? Para burro Gott não servia, imagina-se como consenso.
Sem cerimônia, Gott encostou na porta e escutou os dois gatos conversando. Antes de prestar atenção nas palavras, pensou no dinheiro jogado fora – ou alguém seria louco de descartar Rivald e Petit como atrações de circo, como o blog observou um mês e pouco atrás, há tanto tempo que o leitor já deve ter esquecido e, portanto, justifica este relembrar tardio?
Da conversa furtada, só amenidades. Como bom assassino,Gott concluiu ser hora de agir. Abriu a porta e viu os dois gatos sentados no chão. Sentiu-lhes expressões de surpresa, afinal, quem esperava dar de cara com um serial killer? Sem cerimônia, sacou a pistola e eliminou os bichanos, cuja habilidade narrativa ficou no passado – se trocasse a França pré-imigração africana pelos EUA do tempo do faroeste, Gott seria o gatilho mais rápido do Oeste.
Entre poças de sangue e os cadáveres de Rivald e Petit, Gott fez pose de filme, assoprou o cano e guardou a arma na batina, sem antes conferir as balas. Restava uma, suficiente para dar cabo do número 87. Sem intromissões, bem ao gosto do nosso senhor jesus cristo.

FIM

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