26 junho 2008

A Maravilha de Paris

Tá nas minhas mãos o Almanaque Esportivo 1943-44 Olympicus, que só pela descrição no título descarta qualquer adjetivo. Peguei por empréstimo, e posso dizer que devoro este tipo de velharia (sem duplos sentidos, por favor, ainda gosto de carne rósea).
Bom, o tal do almanaque tem tudo sobre todos os esportes no Brasil, incluindo os resultados dos torneios de tênis nacionais entre 1913-43. Mostra os jogos das três participações da Seleção nas Copas e dedica mais de 100 das 500 páginas para o futebol. Traz aulas táticas e matérias curiosas, como o resgate da Copa Roca de 1914 (ó, Roca, tá famoso) e outra com o seguinte título:

"Os centromédios de côr"

Aí eu pergunto: poderia uma coisa dessas hoje? Seria um racismo inafiançável. Pois eu li a matéria e nela não tem nada de errado. Pelo contrário: passa o tempo todo falando bem dos tais centromédios, destacando "vocação" dos negros para esta função e incensando o uruguaio Andrade (foto), um dos melhores da primeira metade do século passado. Aliás, o Andrade é descrito como "A Maravilha de Paris", em referência ao título olímpico do Uruguai em 1924.
Bom, aí eu já acho que a matéria passou do suposto racismo para a suposta viadagem. Ou quem seria louco agora de chamar um jogador de "A Maravilha de Paris"? Só imagino os colegas nos treinos, gritando:
- Passa a bola, Maravilha!
Andrade deveria ter processado quem criou o apelido, isto sim. Se ganhasse o dinheiro, poderia ter evitado o que acabou acontecendo: a morte na miséria, de tuberculose, em 1957. Tinha 56 anos.

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